Belle & Sebastian.

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Hand in Hand With The Eletronic Renaissance is Way To Go.

sábado, 21 de novembro de 2009

Na Cidade Cinza.

Ando pela cidade com medo. São muitas coisas para minha cabeça e agora percebo que o que escrevi em um poema já um pouco antigo, de nome "A Escravidão do Homem Moderno" torna-se a cada dia mais concreto.
Quando paro à espera do ônibus rumo à faculdade de Letras, penso na quantidade de pessoas que estão ali, nas forças cegas de suas vidas perdendo-se no ar e indo em direção ao Nada incutido por seus ídolos charlatães... Penso numa citação de Engels feita por Walter Benjamin em seus estudos sobre o flaneur no qual o teórico socialista mostra que essa grande massa cega perdeu há muito a sua humanidad em prol de toda essa sofisticação que paira sobre nossas cabeça.
Daqui a um espero estar com um diploma de licenciatura em minhas mãos e começo a imaginar o tipo de situação com que vou me deparar.
O certo é que toda essa diversidade humana que vejo é aparência. Vejos os garotos que imitam modos de vestir de um certo gênero musical que nada prega da violência que eles vivenciam. Eles, como os demais dessa cidade, me mostram como o fetiche descrito por Marx atingiu níveis estrastosféricos e se tornou a má-fé de Sartre. O caminhar do flaneur é um mergulhar na mercadoria que transforma em objeto seus seguidores...
O cancro é profundo... Olho uma torneira pingando e penso nisso. Vejo aquela árvore caindo e um jornal que diz que é um orgulho imenso fazer parte do Estado do Pará mas que apóia os parasitas que o destroem fazendo programas exclusivos para eles e vejo isso. Amanhã e dia de prova do Vestibular e vejo isso. A massa seguindo atrás da realização pessoal. Sobrevivência.
Penso o que quero. Lembro-me de uma cena em que Henry Chinaski, o anti-herói de Bukowiski, depara-se com a insólita sensação que tenho agora.
Num treinamento do ROTC, uma espécie de corpo de reserva das forças armadas cuja frequência era obrigatória no ensimo médio para aqueles que não se envolviam em nenhuma atividade esportiva, ele se vê frente-a-frente com um bando de caras que lutam por aquela formação como a coisa mais necessária do mundo. Para Chinaski, o homem mais absurdo que já conheci, aquela é apenas mais uma forma contingencial de ser. E a mais tosca também.
Briguei com um amigo e por meses rezei para que ele voltasse a falar comigo. Hoje já não sei se quero isso.
A humanidade que busco não está ali. Muitos menos no ROTC e nas redes de supermercado.
Não está em lugar nenhuma. Só há a pose.
Vejo pessoas que se divertem e sinto pena delas.
Vou ao cinema e assisto a filmes pela poesia, seja ela conceitual ou estética, da obra. Todas essas pessoas correm apenas para não chegarem atrasadas. O mundo é legível mas não é inteligível. Medo da demissão, o pensamento coagulado, matéria morta com a falsa consciência de que tudo não merece a preocupação de se buscar uma resposta. Tudo é indiferente.
Está ingenuidade é o que mais odeio no mundo.
Por isso luto a cada dia comigo mesmo para seguir a lutar, para nunca perder o prazer da descoberta. Nunca achar que o fim da estrada está ali a frente.
Apenas no dia em que o seres humanos, no geral, tirarem o véu do mundo em-si e acabado de sua cara, será possível falar em revolução...
Enquanto esse dia não chega, seguirei me divertindo em meio ao turbilhão de seres trancados em suas ilusões auto-suficientes sem vida, com meus poemas, minhas andanças e minhas futilidades.