Belle & Sebastian.

Belle & Sebastian.
Hand in Hand With The Eletronic Renaissance is Way To Go.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Humildade.


Um belo dia me chamaram de arrogante. E usando o método socrático perguntei-me o que é a arrogância. Outra vez me chamaram de louco; e usando mesmo método tornei a perguntar: o que é a loucura.
Bem, o mundo é assim, seres que se reúnem em grupos para anularem ou amenizarem sua falta de sentido, transformarem o horizonte infinito de ferro em algo previsível e doce. As pessoas e algum momento deduziram que a loucura é a loucura e que quem é estranho logo se enquadra neste rótulo. Só esqueceram de consultarem o que caracterizaria este ser-estranho, esta loucura-coisa que tanto abominam e usam como justificativa negativa de seus atos.
O cara que me chamou de louco não soube responder a pergunta. Disse que não sabia o que era loucura mas que certamente eu me enquadraria neste conceito perdido. Franz Kafka escreveria um belo conto em cima disso. Veria como as palavras podem ser moldadas para gerar esferas surrealistas, ou feéricas por serem patéticas, apenas com o intuito de justificar os atos que um ego consegue captar seus. Teria a sua frente toda a apologia para o ato louco de escrever coisas que não seguem a lógica linear do mundo sensível, pois o próprio mundo sensível não tem uma lógica e fica se perguntando, como o céu do Evangelho de Jesus Cristo deve ter se perguntado, o que é essa droga de lógica afinal...
Pego-me andando loucamente por essa cidade, por esse mundo, com a estranha certeza de nada ser. Meus atos me dão prazer ou desprazer ao entrarem em contato com antigas lembranças, desejos e certezas, e todos os seus avessos, que estão dentro de mim, a cada segundo renovados por novos sentidos de fatos oriundos de lugar nenhum, que por sua vez ganham sentido em contato com os antigos fatos, e isso sim deve ser chamado de Caleidoscópico, não o ser-em si que se acha complexo, que me chama de louco e age como uma pedra dinamicamente estática.
No ônibus rumo a João Pessoa, conversando com alguns companheiros das Letras, disse a eles que Gregory House era o único ser humilde daquela clínica. Sua vida é repleta de traumas sombrios, de divagações sobre divagações, de contemplação estupefata de respostas prontas que não condizem ao passo que foi dado e ainda ressoa no assoalho das mentiras.
Tudo é patético às vezes. Fala-se em revolução comendo boas comidas e usando roupas de marca, fingindo-se condiscípulo do pobre que se esfola para ter um ovo frito. Não se tem orkut, mas usa-se All Star. Não se bebe Coca Cola, porém fuma-se Marlboro, e o ego amolecido ler com o mesmo fervor de um teocêntrico lendo a Bíblia em latim "O Manifesto do Partido Comunista". E a revolução é algo que ninguém deseja, pois com ela viria o desconforto do burguês desprovido de seu berço esplêndido, renegado em palavras de ordem, contudo desejado após um dia cheio de discussões e maconha. Viria também o desconforto de ser igual, de não ser diferente, e por isso grande. E para os pobres a revolução segue sendo uma palavra estranha...
Todos temos verdades, princípios norteadores. Todavia, até que ponto os seguimos, até que ponto eles são apenas manifestações de um superego que metamorfosea um id inconsolável com sua inutilidade perante o mundo que esmaga a sua verdade a cada segundo, a cada grão de poeira, a cada palavra solta que nega a concretude do ser-verdade que criou para si.
ATÉ QUE PONTO ESTES PRINCÍPIOS SÃO DESCULPAS? Até que ponto a verdade sincera não é apenas um modo de má-fé, de engano?
Adianta uma mulher se dizer mulher mas usar o seu ser-mulher para explicar sua fragilidade ou sua idiossincrasia?...
Adianta a categoria explicar os atos que concernem ao indíviduo?
E esse mesmo indivíduo se prende na auto-descrição sem sair ao mundo por quê? Qual o medo da descompressão que existe em seu interior?
Mas como perceber se alguém usa os seus princípios como liberdade condicionada e ao mesmo tempo irrevogável do Homem? Talvez vendo se este homem passa o tempo a se justificar de suas falhas utilizando uma postura fugaz, em que os vícios dos outros explicam suas falhas, em que seus erros são assumidos, sem um movimento de crítica, apenas a confissão do condenado sem forças para lutar...
Porém a maior forma é: reconhecer se este homem que adora se julgar e reclamar da liberdade tem forças para enfrentar os efeitos de suas escolhas, as conseqüências de sua vivência, sem titubear. Se ele trocar o choro pela glória da auto-piedade coisista, está-se diante de uma figura patética que não abrirá ouvidos e olhos a nenhuma revolução, por mais que a palavra em questão esteja gravada como um estigma em sua face.
As palavras trazem a harmonia do peso morto que ressuscita e mostra as faces do mal que aquele ser tentou tanto anular. Mas aí novas palavras surgem para anular velhos pensamentos e a morte é obliterada por ser algo inútil com todo o seu terror.
Neste sentido, a humildade, que tanto falei que falaria aqui é ignorada como todo conceito básico e usada como o santo que expulsa todo mal. A humildade, o reconhecer-se pequeno, não é feita pelos vermes em-si, sua mente está deslocada de si, presa ao dinheiro, ao prazer, aos vícios... E nas palavras que os tornam virtudes, que numa tentativa de anular o mal que os olhos criaram, esforçam-se para reconvertê-lo em algo suportável e desculpável pelas frases filosóficas mais baratas.
House é humilde pois reconhece a mentira, a coisificação. Mesmo patético, é grandioso pois seu interior se põe à prova. Mesmo ficção é mais vivo que a vida imitada pela arte de muito que estão aqui, agora, lendo este texto bizarro, desconexo, fruto de música, luxúria e prazer pelo mundo. Fruto da vontade de não tornar a vida um circuito fechado de pensamentos, atos e explicações.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Trespassado.

Busca-se inspiração,
busca-se nexo.
Desdobramentos da Linguagem
expressando as vicissitudes não aceitas.
Um fora agora,
outro amanhã,
versos-desabafo inúteis.

A cidade espectral.
90 minutos que tento anular
a minha dor.
Puxando-me para baixo.
Ranjo os dentes contra direitos
absurdamente exigidos.
Pessoas que querem a imagem estática
do mundo razoável.

Palavras de quem não sabe o que quer.
Influência do meio,
desejos idiossincráticos,
explicações inúteis.

A dúvida e o desejo sexual.
O que quero dizer?
Nada, absolutamente nada.

(18/03/2010)
As palavras mais negras.
Os anos mais cheios de dias surrealistas.
Sombras brancas,
velas com fogo negro
e o Caos urbano.

Aí vêm as promessas,
na forma de preservativo lubrificado
e letras de rock experimental.

Minha linguagem hermética,
perdida na reflexão estética,
contempla tudo isso
na voz surda de vermes mudos.


E as horas passam
e o momento se mostra eterno.
E as horas param
e as verdades são etéreas.
E a bebida regurgita
e a alteridade vira identidade.
(Mentira!)

O Todo estático,
parado no êxtase dinâmico
que deixaria Álvaro de Campos desmaiado,
revela-se como um espetáculo
regado a orgasmos e fel.

(02/08/2010)