Belle & Sebastian.

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domingo, 6 de março de 2011

O monstro chamado Existencialismo.


Tive contato com a doutrina filósifica criada por Soren Kierkegaard e aprimorada por Sartre, Simone de Beuavoir e outros franceses em 2007, lendo um livro da coleção Primeiros Passos. Desde então posso afirmar que me apaixonei por essa corrente que valoriza aquilo que o Homem é de forma intuitiva desde seu nascimento: a Liberdade.
Ao mesmo tempo que tive contato com excertos de teorias existencialistas e fenomenologistas, percebi que muitas pessoas ao meu redor clamavam pela liberdade sem enfrentar o peso das consequências, vivendo naquilo que chamo de má-fé, inspirado em Sartre. Vi que a frase: o Homem é condenado a ser livre, se aplica a todos os fatos da realidade humana, mas que ao ser o livre, o Homem é sua única testemunha, ao mesmo tempo que é réu e juiz no juízo que faz de si e da realidade que o circunda.
Me encanta saber que sou responsável por mim, ao mesmo tempo que isso me amedronta pelo peso de não fuga da falha, não ter uma desculpa. Me encanta saber que cada ser humano no mundo tem uma perspectiva diferente dele; e a partir desta perspectiva, deve-se buscar a criticidade, luta pela liberdade e por que não, respeito.
Tudo isso me faz ver o existencialismo como o pensamento que super-valoriza a raça humana, sua capacidade de escolha, de luta, de entender e explicar as coisas ao redor.
Todavia, críticas são feitas ao pensamento existencialista, não do ponto de vista epistemológico ou filosófico, mas do ponto de vista moral. Muitos taxam o existencialismo de filosofia do desespero, da descrença, da imoralidade. Uns se baseiam na descrença em Deus de muitos pensadores existenciais, outros na quebra de conceitos, como o amor, a sexualidade feminina, etc.
A meu ver, a dialética é a grande arma caso se queira irritar uma pessoa que crê em conceitos reificados. Tal tipo de pessoa utiliza-se de conceitos doados pela tradição, mas sem saber descrevê-los. Fala-se de amor, sem saber o que se é amor; de moral, sem saber o que se é moral; de loucura, sem saber o que é loucura. Por isso, desde Sócrates, a ironia consiste na grande ferramenta de quebra de conceitos e paradigmas, uma forma de adentrar nos limites conceituais da sociedade e perceber que aquilo que muitos veem como leis absolutas da natureza, são tão somente palavras fixadas num enunciado que representam certa verdade.
O existencialismo é pura dialética. O seu surgimento preconiza a quebra dos conceitos, uma nova ordem, uma nova forma de ver os fatos. Muito daquilo que se fazia em segredo, vê seus ecos nos discursos existencialistas, que apenas afirmavam, por exemplo, coisas como o amor livre, que muitos dos puritanos que achincalhavam o movimento faziam, de forma inferior, em segredo absoluto.
O pensamento existencialista, a meu ver, representa a crueza das coisas e ao mesmo tempo a poesia existente no modo como o ser humano cria a realidade lhe dá sentido. Contudo, este pensamento é extremamente realista e exige do indivíduo que se reconheça, enquanto individualidade, temporalidade, contingência e facticidade. Isto faz com que muitas quimeras românticas como felicidade, amor eterno e incondiocional caiam por terra, deixando-nos nus diante do Absurdo do mundo.
Por isso, os intelectuais que criticam tal movimento, são ao meu ver, seres que veem o mundo como coisa, acabado, e clamam a profundidade como disfarce e justificativa para suas utopias. São esse tipo de ser que dividem o ser em duas partes: uma física e uma metafísica, corpo e alma, e fogem na alma de todo juízo e pecado.
Tais pessoas, desenvolveram a sua redoma de vidro e não querem qualquer questionamento. São como o peixe que sente a água todo dia e não a questiona, por não sentí-la. Vivem de forma conformada, pois supostamente chegaram a um estágio de certeza que lhes dá garantia de auto-suficiência. Quando surge uma arte ou pensamento varguadista, o nojo é a reação natural de seres que se veem expostos, sem defesa. Seres que se veem safados no duplo sentido, pois não posseu mais a capa da moralidade e para cobrir seus atos impúdicos e ainda assim clamam pela moralidade como se a seguissem.
A meu ver, o pensamento de Sartre e outros, inclusive de mentes como Machado de Assis, mostram a estranha relação existente entre palavras e coisas, como aquelas podem escamotear a frieza das últimas e deixar impotente em seu aconchego alienante. E na luta pela liberdade, a relação tem que ser tirada da aparência de linearidade, para apenas então, na realidade descontruída, o Homem possa, de forma consciente, crítica e séria criar rumos para a sua vida e a de sua coletividade, compromissando-se com seu tempo.
Ao encarar a realidade, pode-se modificá-por saber onde estão os problemas e suas causa. Virando-se o rosto, como se faz com problemas como o da sexualidade precoce, dá-se força ao problema, que segue a ocorrer.
De certa forma, esta é outra ilusão quebrada pela ótica fenomenologista: a de que o tempo tem o poder de curar tudo. O tempo é tão somente uma percepção humana, na qual há projeção de projetos e seres futuros que este ser almeja ser. Mas tal projeção é pré-determinada pela atitude humana, por sua atividade ativa, não por seu esperar passivo e contínuo.
Finalizando este breve texto, de alguém ainda muito leigo para escrever grandes obras sobre a discussão, afirmo que o ódio ao existencialismo se dá pela parte, no plano aqui descrito, de pessoas que odeiam o comprometimento do homem, e de seu saber, com tudo o que encontra-se ao seu redor. Sejam sentimentos, fatos sociais ou econômicos, etc o pensamento deve se desdobrar e entender para que as mãos do Destino não ajam.
As pessoas que odeiam o Existencialismo são as que odeiam não terem desculpas para as suas falhas e seu sonhos esdrúxulos de conforto e felicidade eterna, fora do tempo.



Ode a uma mulher comum.

A Vamilis Brito.
Eis me diante do ser
que me provoca emoção e desejo.
Uma doçura que torna inútil
a reflexão, pois me dá a ilusão
da coisa-em-si amor.

Gostar e rir, mentes confusas.
Bondade nela e em mim distração
voltada completamente
às amarras desse ser protegido.

No meio e ligações entrecortadas
e conversas virtuais,
sinto ao mesmo tempo a alegria
de saber desta existência
e a dor de não tê-la materializada
ao meu lado.

Resta-me o consolo
de um encontro casual
e de que há no mundo
fenômenos e pessoa
por si só fascinantes,
no mistério evidente
da intencionalidade deleitada.

Já disse tantas vezes
e de tantas formas que a amo.
Porém sigo a dizer,
sem cansar.
Pois ao seu lado
assumo a simplicidade
e tenho a alegria
que gostaria de ser sempre.
(01/03/2011)